quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

SUICIDE-HOUSE

“A vida é uma peça, e quem a acha má tem dois recursos: pateá-la, é o meu caso; ou ir-se embora, o que é o caso dos suicidas. Suportar a farsa toda, lá por que a maioria gosta dela, um disparate! Os que se matam pagaram também o seu bilhete, e muito é que não reclamem o preço à saída, nem incomodem os que se ficam a rir, na plateia. Somente, como progride tudo, e o suicídio entrou de vez nos hábitos lisboetas, quisera eu que o proteccionismo do Estado, desviando a sua exclusiva solicitude de sobre os que só querem viver, organizasse também o serviço de morte voluntária, em termos de se proporcionar ao suicida um certo conforto.”

“― Interessantes cavalheiros se estão queixando de, por falta de comodidades, não poderem dar cabo dos canastros.
― E há vultos da galeria política que dizem por aí à boca cheia: como havemos nós de ir, sem veículo, àquela parte?
Estes clamores repetem-se incessantes, e o Estado haverá que prover sem delongas às necessidades que eles denunciam. Razão por que eu, deixando por agora aos Ripperts a argúcia de umas carreiras baratas, para o segundo dos aprazíveis pontos que citei, delibero facilitar por mim as viagens para o primeiro, oferecendo ao M. das Obras Públicas o plano de um casino-modelo para suicídios, que proponho seja instalado no centro da cidade, entre tribunais, hospitais, casas de mulheres, e casas de penhores.”

Fialho de Almeida, “Suicide-House”

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