quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

Natal na Grécia




Um jovem de 15 anos foi baleado mortalmente no peito no sábado, 6 Dezembro, cerca das 21h, no bairro de Exarchia, em Atenas, na Grécia.Os contornos ainda são pouco claros, havendo várias versões diferentes do sucedido, contudo vários testemunhos apontam para uma vulgar troca verbal entre um pequeno grupo de jovens e dois agentes de um carro patrulha da polícia.Estes terão saído do veículo no seu encalço, dispararando 3 tiros sobre o grupo e atingindo mortalmente Alexandro Grigoropoulos com uma das balas.A versão oficial das autoridades fala em tiros para o ar, alegando que a bala mortal resultou de um ricochete, após serem apedrejados por 30 jovens e ameaçados por Alexandro com uma bomba de petróleo.As testemunhas afirmam que houve intenção clara de disparar para o peito do jovem e que os agentes abandonaram o local de imediato.Em qualquer dos casos não fica provada a legitimidade desta intervenção da polícia: se os agentes corriam risco efectivo de vida - o que parece discutível, dada a quantidade de testemunhos contrários - não poderiam ter disparado para um braço ou uma perna, evitando uma morte? Não é isso que distingue os agentes da autoridade de vulgares assassinos?
O rastilho foi ateado.Os motins,as manifestações e a greve geral(marcada para hoje, ainda antes da morte do adolescente) que se seguiram repudiaram não só o sucedido como toda a situação política, económica e social que hoje se vive na Grécia.Há cerca de ano e meio que as greves de milhões se sucedem, por vezes com alguns confrontos com os agentes policiais.E porquê? Eis porquê:
- 1 em cada 5 trabalhadores vive abaixo do limiar de pobreza;
- taxa de desemprego de 8% e a crescer;
- taxa de desemprego de 22,9% entre jovens 20-25 anos, o valor mais elevado da União Europeia;
- inflação elevada;
- salários baixos;
- corrupção;
- insatisfação com a política de privatizações do governo;
- insatisfação com a reforma do sistema de pensões;
- falta de investimento em sectores chave como a educação ou a saúde;
- degradação dos subúrbios;
- insegurança económica e falta de perspectivas para os jovens;
- etc.
Em suma,“o autismo de um poder que não percebe os verdadeiros problemas das pessoas", como afirmou George Papandreou,líder do maior partido da oposição.

«O sentimento aqui é o de que se tiveres dinheiro e status podes bem fazer aquilo que quiseres.Temos um ditado aqui: “Se tiveres dinheiro, és inocente.”. »
Anna Giabanidis, advogada estagiária em Atenas

«Há 20 anos que a polícia daqui não faz aquilo que é suposto fazer.Quando tudo o que precisam é de sacar uma arma, eles por vezes matam pessoas. Isso é inaceitável.»
Spiros Delimpasis, engenheiro informático , 32 anos, Larissa

«O governo queria que adiássemos este protesto, mas eles são aqueles que têm de fazer alguma coisa para acabar com esta violência e melhorar a qualidade das nossas vidas.»
Kalypso Synenoglou, estudante de teatro, numa das manifestações

«Que acontecerá se a juventude não resistir? Estou a protestar pelo meu desagrado com a economia.Preciso de ter um segundo emprego limpando casas pois não consigo viver da minha pensão.»
Helen Hathidaki, manifestante frente ao parlamento no dia da greve geral, 10 de Dezembro

«A morte do rapaz foi uma desculpa.O governo não pode cuidar apenas dos ricos.»
Thomas Siozos, dono de uma loja vandalizada

«O “amiguismo” e a corrupção têm de acabar para que a Grécia se torne uma verdadeira sociedade democrática.»
Victor, Atenas

“Este é um governo que só se protege a si próprio, e as pessoas respondem de acordo fugindo aos impostos, recusando-se a pagar as taxas sociais, poluindo o ambiente, desafiando a lei, pagando subornos, tentando arranjar empregos no sector público e fazendo o que lhes dá na gana sem qualquer castigo.»
Kat Christofer, jornalista norte-americana radicada na Grécia

A população da Grécia é de 11,2 milhões.
A população de Portugal é de 10,7 milhões.

Os problemas internos são essencialmente idênticos aos nossos.

Os gregos exercem a sua cidadania.
Os portugueses não.

Os gregos querem um Estado que os sirva.

O Estado quer servir-se dos portugueses.

Sem comentários: